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Rotas do Vento

Costa Rica: Vulcões e Selva Tropical – Gonçalo Velez

A Costa Rica é um dos países do Planeta que goza da mais espantosa biodiversidade, tanto vegetal como animal, e deixa qualquer viajante impressionado.

Os dados referentes ao número de espécies existentes são incríveis: 850 espécies de aves, muito mais do que em toda a Europa ou toda a América do norte! Por isso, o interesse desta viagem reside na Natureza que iremos apreciar em diversos parques e reservas acompanhados de um guia naturalista. Ele explicar-nos-á os hábitos dos diversos animais e a razão de ser de algumas das suas especificidades relacionadas com o esforço de sobrevivência. Falar-nos-á das plantas e das características de cada tipo de floresta e de como aquelas interagem. Ele sabe inclusive imitar o canto de várias aves ou o som de mamíferos para os chamar ou espevitar enquanto os observamos.

O Parque Natural de Santa Elena é constituído por uma densa floresta secundária de montanha (cloudforest) que está permanentemente húmida devido à presença de uma nuvem que a envolve. A exuberância e o viço da vegetação são extraordinários: foram detetadas aqui mais de 2500 espécies de vegetais das quais inúmeras orquídeas e bromelíadas (estão registadas no País 1200 espécies de orquídeas!). As árvores estão carregadas de plantas epífetas que brotam do tronco e dos ramos, a destacar musgos, lianas, fetos e vinhas.

Avistaram-se no parque cem espécies de mamíferos entre os quais ocelotes, jaguares e macacos, bem como quatrocentas espécies diferentes de aves, entre as quais a mais famosa, o quetzal, que os costa-riquenhos consideram a ave mais bonita do mundo.

Aqui fiz um percurso muito interessante num sistema de pontes suspensas ao nível da copa das árvores da floresta para observar a vegetação e a fauna tomando conhecimento de um mundo desconhecido e que habitualmente não está ao nosso alcance. Gostei bastante de apreciar a floresta do alto e ver o que se passa no topo das árvores. Observei aves, esquilos, borboletas, insetos e macacos. A mais longa das plataformas tem 200 metros de comprido e 42 metros de altura!

O parque nacional Rincón de la Vieja, a norte perto do Pacífico, é dominado por uma longa cadeia de montanhas que se elevam sobre a floresta húmida. Aqui observa-se uma curiosa atividade vulcânica pois no parque existem dois vulcões, o adormecido Santa Maria e o moderadamente ativo Rincón de la Vieja. Por isso, há várias fumarolas e piscinas de lama e água em ebulição que vamos descobrindo ao longo da caminhada. O cheiro a enxofre no ar anuncia-nos a proximidade dessas fendas.

Observei longamente um grupo de macacos que se deslocava saltando de umas árvores para outras. Todos tinham uma agilidade equivalente excepto os mais pequenos que seguiam no final por serem mais lentos e mais prudentes.

Há animais que nunca imaginei que subissem às árvores e surpreendeu-me ver um coati (pizote), um roedor do tamanho de uma raposa, à procura de alimento no meio das ramagens. Mais tarde veria também um papa-formigas dormindo no cimo de uma palmeira (a sua atividade é noturna), bem como diversos grandes iguanas imóveis ao sol sobre as copas de árvores. Presumo que, nos milénios da sua evolução, este foi o artifício que encontraram para escapar aos predadores.

A Reserva da Floresta Primária Laguna del Lagarto situa-se em Boca Tapada no centro do País, perto da fronteira da Nicarágua. A nossa estalagem situa-se no meio da floresta chuvosa secundária (rainforest). A diversidade de fauna é admirável e poderemos encontrar mais de 350 espécies de aves entre os quais a rara grande-arara-verde, em vias de extinção, tucanos, abutres, papagaios, colibris, rãs dardo vermelhas e verdes, macacos, morcegos, papa formigas e inúmeras belas borboletas. À hora do pequeno almoço içam um cacho de bananas defronte da sala de jantar que é um bom chamariz para as mais diversas aves que aí acorrem e que disputam o alimento. A variedade de pássaros é grande e o espetáculo muito interessante, colorido e divertido.

Outro dos costumes nesta estalagem é darem de comer aos caimãs na lagoa antes do crepúsculo. Depois instala-se uma intensa sinfonia na floresta com todos os animais nocturnos a iniciarem a sua atividade e a produzirem os seus sons.

Além da Natureza exuberante que é o seu principal atrativo, a Costa Rica tem uma considerável atividade vulcânica que fascina a maioria dos viajantes. Fortuna é a aldeia privilegiada para se observar o vulcão Arenal pois está muito próxima. Ele tem uma elegante forma de cone, é ativo e periodicamente produz explosões que expelem fumo, cinzas e rochas para o ar. Por isso não é permitido escalá-lo. Contentei-me em subir através de densa floresta ao Cerro Chato, um vulcão inativo cuja cratera forma uma bonita lagoa rodeada de vegetação.

A experiência mais interessante que tive foi na Barra del Colorado. Navegámos 140 km no rio San Juan que faz a fronteira nordeste com a Nicarágua e que desemboca no mar das Caraíbas. Durante a nossa viagem observámos vários crocodilos em repouso, tartarugas e muitas aves lacustres, uma grande parte sendo pernaltas. Apesar da existência daqueles répteis vi diversas crianças a banharem-se tranquilamente nas margens e um grupo de rapazes a vogar animadamente sobre câmaras de ar.

Chegámos a um albergue no meio de uma estreita península onde, nas suas traseiras, se alongam quilómetros de praia deserta com coqueiros no mar das Caraíbas. O local não é habitado e não havia vivalma muitos quilómetros em redor. Paradisíaco!

Aqui fiz uma excursão de piroga à noite para observar fauna que foi a atividade mais curiosa e divertida que realizei. Navegámos junto às ramagens que pendiam sobre a água do rio que o guia perscrutava com uma lanterna. Foi muito aliciante pois deslizávamos debaixo das ramagens e aproximávamo-nos dos animais. Eles, dormindo, não reagiam! Fomos observando diversas aves de vários tamanhos. Vimos vários iguanas machos e fêmeas equilibrados nos ramos, bem como basiliscos, os lagartos que correm na superfície da água. Nas zonas menos profundas encontrámos dois caimãs repousando com os olhos e focinho à superfície. À exceção de uma ave e de um caimã que acordaram e se escapuliram, os restantes suportavam imperturbáveis o foco das lanternas bem como o clarão do meu flash.

No dia seguinte fizemos um passeio a pé na floresta. Caminhávamos em silêncio com o guia muito atento à frente. Vimos várias pequenas rãs dardo vermelhas, uma preguiça, abutres e diversas aves muito coloridas. As rãs dardo chamam-se assim pois segregam uma substância que os índios usam para envenenar as suas flechas. A preguiça é um mamífero curioso pois move-se muito lentamente e vive agarrado aos ramos das árvores e come folhas. O guia emitia um som que a fazia olhar em várias direções com curiosidade.

O Parque Nacional Manuel Antonio situa-se na costa do Pacífico e possui um sistema de caminhos que cruzam a floresta tropical e que dão acesso a longas praias brancas com coqueiros e a um mar azul marinho com paisagens paradisíacas. Esta floresta contém 100 espécies diferentes de mamíferos e 180 espécies de aves. A observação mais aliciante que fiz nesta viagem foi a de uma boa constritora com dois metros e meio que se deslocava vagarosamente por entre a folhagem. O seu nome deve-se ao facto de ela estrangular as suas presas com o corpo e de lhes quebrar a coluna vertebral. O guia explicava-me que ela não é venenosa mas para eu não me aproximar muito pois ela morde.

Dirigimo-nos à praia e de caminho víamos macacos pendurados nas árvores. Tínhamos de caminhar com cuidado pois às vezes havia filas de formigas carregando grandes pedaços de folhas atravessando o carreiro. As suas tocas são uns montes de dimensão considerável e dizem-me que aí podem habitar alguns milhões de seres. Na costa os iguanas descem à areia e não se impressionam com a presença das pessoas. São uma companhia engraçada e têm um olhar meio desconfiado, parecendo ser muito pachorrentos.

Mais endiabrados são os mapache (raccoon): vi um grupo de três aparecerem na praia e dirigirem-se a uns sacos cujas donas se banhavam. Abriram-nos, retiraram os pic nics e fugiram de volta ao arvoredo. Depois lutaram entre si pois não tencionavam dividir o saque.

Gonçalo Velez